terça-feira, 11 de maio de 2010

Chamas

Há muito tempo
Séculos atrás
Vendi minha alma ao diabo
Como prêmio
Ganhei o inferno
Do frio
Da consciência do frio
Da previsão do frio
Da chuva
Do doer
Passei a sentir a dor
Tomar consciência da dor
A inexistência do amor
Descobri-me um egoísta
O pior deles, igual a todos
Prevendo meu egoísmo
Consciente de sua existência
Com o peso que traz
A consciência da coisa


Ainda não sei
Se fiz bom negócio
Preferia eu o ócio
Justamente o que não tenho
E o que não tenho, quero
Desejo
Desprezo
Por mim mesmo
Mas os dias passam
E nada é tão ruim
Que não possa piorar
Nem Sol, nem mar
Nem chuva de verão
Nem choro, nem dor
Nem felicidade ou amor
Nem fé, nem ciência
Conhecer, conhecer
Até morrer


E morre-se sem destreza alguma
Morre-se pelo que não se tem
Ou pela consciência do que se tem
Ou não tem
Ou terá
Ou será
Morre-se antecipadamente
Pela previsão da morte
Que assombra a vida
Sombra da vida
À sombra de um bosque
Que vive e morre
E morde-se em chamas
E sente-se o fogo
E não se foge
Porque não há onde
Em tudo, chamas
Que ardem conscientes
Em nossa consciência

bardo, 24 de Setembro de 2008 - Madrugada

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